Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu atrai a atenção do mundo
- Folha Notícias
- 14 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Pesquisadores e produtores do Brasil estão no município para conhecerem os SAFs
Agricultores do município de Tomé-Açu, no Pará, receberam esta semana (11 a 14/03) uma missão técnica para conhecer os Sistemas Agroflorestais, que são referência em produção sustentável na Amazônia. Gestores e pesquisadores da Embrapa Cocais (MA), técnicos da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão e a produtora rural Teresa Vendramini, membro do Conselho de Administração da Embrapa (Consad) conheceram SAFs de diferentes escalas em áreas de produtores, a pesquisa com os sistemas integrados de produção e a cadeia agroindustrial da região.

O Sistema Agroflorestal, também chamado de SAF, promove a integração da floresta com agricultura para produção de alimentos numa mesma área. “Um dos maiores benefícios desse sistema é a diversificação e a geração de produtos em épocas diferentes. Isso possibilita ao agricultor ter produção o ano inteiro na propriedade. E a diversidade traz também o ganho ambiental, com a presença de outros seres vivos no sistema”, explica Osvaldo Kato, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

Com 40 hectares de Sistemas Agroflorestais de mais de 30 anos, a área do agricultor José Maria Pantoja Filho, em Tomé-Açu, mostra a importância desse modelo de produção para a região. O agricultor ressalta que o carro-chefe da produção é o cupuaçu, mas é a diversidade que garante alimento e renda para a família. “Eu tenho cacau, açaí, pimenta-do-reino, maracujá, taperebá e cupuaçu em diferentes combinações. No SAF a gente colhe o ano todo e todas culturas complementam a renda”, afirmou.

Já na área do agricultor Ernesto Suzuki, o plantio do dendê consorciado com fruteiras e espécies florestais gerou uma revolução na região. “Houve uma quebra de paradigma com relação ao cultivo do dendê, que tradicionalmente era monocultura. Acreditava-se que outras culturas no meio do dendê poderiam prejudicar a produtividade da palmeira”, lembra Suzuki.
Um projeto desenvolvido em parceria pela Embrapa, Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) e empresa Natura implantou na região o consórcio do dendê com cacau, açaí e andiroba, chamado de SAF Dendê. Na propriedade de Ernesto Suzuki são 40 hectares com essa modalidade de sistema e outros 60 hectares com diferentes combinações de fruteiras e essências florestais, como taperebá, mogno, cupuaçu e outras culturas. “Existe uma harmonia entre as várias espécies existentes aqui, não só em termos de solo, microrganismos, mas também entre os animais, diferente de um monocultivo”, completa o agricultor.
Organização social e mercado
A terceira experiência visitada pelo grupo foi a propriedade do agricultor Michinori Konagano (foto acima), um dos pioneiros na implantação dos Sistemas Agroflorestais em Tomé-Açu. Konagano chegou na região aos dois anos de idade, na década de 1960 . Ele conta que as primeiras experiências de combinações de espécies foram realizadas a partir da observação dos quintais das populações locais.
Nos 850 hectares da propriedade de Konagano, 230 hectares são ocupados por SAFs altamente diversificados com cacau, açaí, pimenta-do-reino, cupuaçu e citros, além das culturas anuais, como melancia, abóbora, feijão e maracujá. Ele gera cerca de 30 empregos diretos na sua propriedade e destaca a parceria da pesquisa no aprimoramento dos sistemas e no desenvolvimento de variedades mais produtivas. “A Embrapa foi e é uma grande parceira”, afirma o agricultor.
A organização dos agricultores em torno da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) é um dos elementos fundamentais para o sucesso da produção local, de acordo com o agricultor. “Não existe receita pronta, o primeiro passo é estudar o mercado para ‘desenhar’ sua propriedade”, acrescenta Konagano. Ele destaca ainda a formação de pessoas e a necessidade de políticas públicas duradouras.
Pesquisa e política pública
A Embrapa Amazônia Oriental, de acordo com o chefe-geral Walkymário Lemos, vem investigando os SAFs ao longo do tempo, buscando não apenas redefinir desenhos, mas também gerar indicadores de sustentabilidade ambiental, econômica e social. No campo experimental da instituição em Tomé-Açu, as pesquisas com fruteiras nativas e introduzidas na região já geraram importantes resultados para a fruticultura, como cultivares de cupuaçu e açaí, amplamente utilizadas nos SAFs da região.
“Os Sistemas Agroflorestais representam um modelo de produção que temos defendido para a Amazônia. É inclusivo, é ecologicamente desejável por ofertar serviços ambientais e mitigar emissões de gases de efeito estuda e resulta em recursos diversos para a nossa população”, afirma o gestor.
Para Marco Aurélio Bomfim, chefe-geral da Embrapa Cocais (MA), a conexão da ciência com o segmento produtivo, na qual a pesquisa acontece nas áreas dos produtores e as práticas e inovações são imediatamente validadas, é um ponto importante visto nas experiências de Tomé-Açu.
Ele, chefes-adjuntos e equipe técnica da Embrapa no Maranhão visitaram a região para conhecer os Sistemas Agroflorestais e o trabalho da pesquisa. A diretoria da Embrapa, como afirma o gestor, vem incentivando plataformas colaborativas de pesquisa e maior aproximação entre as Unidades.
“Tomé-Açu é um exemplo muito consolidado de trabalho com a pesquisa na perspectiva da inovação aberta. E os sistemas sustentáveis são uma das pautas que vêm sendo priorizadas dentro da agenda de bioeconomia da Embrapa”, argumentou o gestor.
Para Maria Arouche, superintendente de Economia Verde, da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema), as experiências vistas em Tomé-Açu deixam um legado de resultados positivos tanto para as comunidades quanto para o meio ambiente. “Nossa intenção é desenvolver no Maranhão um projeto em parceria com a Embrapa voltado aos SAFs. Vamos levar esse aprendizado e adaptar à nossa região o que for necessário”, anuncia.
A missão encerra hoje, quinta-feira (14), com reunião técnica na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA).
Texto: Ana Laura Lima (MTb 1268/PA);Embrapa Amazônia Oriental
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